domingo, outubro 08, 2017

Ciclo viagem a Aparecida do Norte

                         
Essa história merece um subtítulo, que seria bem representado se fosse assim:

                          Pedal e não pedal pra Aparecida do Norte



         Falamos muito sobre esse pedal há cerca de um mês, da necessidade de se fazer revisão na bike, de cuidar pra que
tudo esteja pronto uns dois dias antes. Não atrasar no dia de encontrar o grupo, etc...

O mais complicado porém, veio depois, as dificulades do clima, porque começou aquela garoa fina bem no início...

No grupo de Whatsap fui ignorado, pelo pessoal do Roda Presa, não respondiam quando eu postava, em seguida faziam suas postagens e começavam a comentá-las. 

Beleza pensei, também vou retribuir, vou fazer parte dessa viagem e não vou escrever nada sobre vocês. 

Foi isso exatamente que pensei, e falei comigo mesmo não vou nem citar o nome desse grupo Roda Presa. Quero ser um macaco se eu citar esse pessoal.





Mas pessoalmente todos me cumprimentaram, conversaram comigo, etc. e tal, Seu Roberto pra cá, seu Roberto pra lá...

Humm será que eu estava enganado?  não não poderia estar enganado, eles me desprezaram no grupo. Mas... deve ser auto proteção, sentimento celulariano de quem quer proteger o nome do seu grupo, visto que eu não estou neste e estou em outro com pessoal desse grupo chamado ... Pedal Existencial. Coisas do mundo do whats, não devem assumir tanta importância assim...

Quero aproveitar este trecho e render uma homenagem ao grupo de ciclismo Ascibikers, criado pelo saudoso ciclista seu João Carlos, hoje com passeios conduzidos pelo seu Nivaldo e seu Andelcio.

   O que fez com que mudasse de ideia foi a primeira providência antes do início do pedal:  Todos participantes se juntaram numa roda, e depois de algumas considerações sobre a organização, todos se deram as mãos e rezaram um pai nosso e uma ave Maria.







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Aí então começou nossa ciclo aventura. Pedal e não pedal pra Aparecida do Norte

Trinta ciclistas pedalando pela cidade, com uma garoa fina partindo às 10 e 40 da noite, da avenida Atlântica na zona sul. 
Avançamos pela marginal Pinheiros, passando por bloqueios de obras, desviando pelo meio, pelas beiradas... até o pessoal
que trabalhava nas obras da pista olhavam curiosos, alguns cumprimentavam.

Em pouco tempo rompíamos os primeiros 20 e tantos quilômetros... e já avançávamos a avenida nove de julho, alcançando o
túnel. Atravessamos o centro da cidade, passando pela praça das Bandeiras, avenida Tiradentes, e alcançando a marginal Tietê.

Houve um trecho em que passamos no final da Tiradentes por uns jovens, juntos na calçada que comemoravam nossa passagem, 
com gritos de saudação. Um grupo de ciclistas pedalando juntos, mexe com a imaginação das pessoas, acho que muita gente se vê
naquele grupo, entre amigos, curtindo uma pedalada. Isso mexe com São Paulo... do metrô, do ônibus lotado, das caras de 
paisagem.

Estávamos em trinta ciclistas e a organização contratou duas vans de apoio, e com carretilhas, assim, haveria encontros a cada
40, 50 km em determinados postos de combustível, onde era tínhamos água, frutas, pera, banana, e um kit, com barrinhas, paçoca,
chocolate bolachinha..  Só achei que tinha muitas bananas, pencas e pencas de bananas.. hummm...

Até a primeira parada, já bem próximo do acesso à rodovia Ayrton Senna, tudo corria muito bem, por volta de uma da manhã.
encontramos as vans, conversamos um pouco... era a primeria parada, e até demoramos um pouco mais do que o previsto.

Mas  partimos em seguida e como combinamos, durante a noite toda, e até amanhecer, tínhamos que pedalar em grupo, somente
depois de clarear o dia, se alguns quisesse meter marcha e aumentar a velocidade que ficassem à vontade.

Começamos a se deparar com os primeiros problemas depois das três da manhã, pneu furado. O primeiro, que fez com que todo grupo 
parasse e no acostamento, agrupasse aguardando o conserto.








Mas já depois das 4 da madrugada, chamava a atenção a quantidade de furos, e era um e seguida do outro...

Assim foi até o amanhecer, quando o grupo chegou na algura de Guararema, muitos como eu mesmo, já estavam cansados 
não exatamente de pedalar, mas de pedalar e parar e depois seguir. Isso mexe com a preparação, com o condicionamento físico
de todo mundo. Aquece, esfria, aquece novamente e assim vai indo... e desmotivando, porque pedalar é motivação, é adrelnalina.

Então por volta de seis e pouca da manhã, recomeçando a chover, e naquele ritimo de pedal e não pedal, achei melhor entrar na Van, pensei em abandonar o pedal. Chega, pensei, chega de tanto parar pra consertar, isso já cansou. Aquela frustração foi dominando e resoluto, coloquei minha bicicleta na carretilha. Eu só não, a Priscila, Andrea, o China, mais dois ciclistas, desculpe não lembar o nome vou nomear como personagens... Anderson itaim, Jonas, que escapou da baleia...

Sensação de derrota de desistir do pedal, mas a conversa foi ficando mais suave, e até cochilei um pouco, foi nesse instante que a Priscila, resolveu fazer uma foto minha ... ah danada...

O Anderson também subiu na van, a sensação era a mesma a frustração de não poder pedalar continuamente, tendo que parara todo instante.

Mas aí, chegando em São José dos campos, vendo principalmente a Amélia pedalando pelo acostamento e os demais, quando passamos de van, isso mexeu com todo mundo. Eles estão se esforçando pra chegar...  As ciclistas se contaminaram, ouvi da Andrea e aPriscila, 

¬essa mulher é f... é insistente, quero pedalar com ela vou voltar pro pedal... e assim um a um foi decidindo também.

Um parentese aqui, Amélia é uma advogada, que mora depois do Grajaú, e pelo menos três vezes na semana, vai pedalando para o trabalho, lá na Chácara Santo Antonio.. 



Ela conta que chegando lá, toma seu banho, e se transforma pra trabalhar...

Merece essa nota.


Esta é a Priscila, da direita é a Priscila, também merece nota. Meio malabarista meio ciclista, tem manias de soltar as mãos do guidão...eu que não fico ao lado dela quando faz isso, uma vez até chegou a mexer com o celular enquanto pedalava sem as mãos no guidão... Credo Cruz...

Em compensação é muito incentivadora, animada, empreendedora, tem jeito especial para incentivar quem está começando.

A ciclista da esquerda, Andrea também é meio malabarista, solta as mãos do guidão, nossa mãe protetora dos ciclistas abusados, chega a erguer os braços, pedalando...  Mas eu soube, e ouvi ela mesma contando, que lá no passado... ia pedalando, quando capotou com sua bike na rua próxima da casa do Anderson.

Então ela foi chamar o amigo, que ainda nem era namorado, acho que foi isso que entendi, em busca de ajuda.

Sabe como é, acho que foi um curativo aqui, um ai ai dali... e hoje sei que ela e o Anderson tem três netinhos. A última é netinha. 

Foram as notas em homenagem a estas ciclistas que formaram nesta ciclo aventura,  no mês rosa, no mês da padroeira do Brasil.

Agora, voltamos ao nosso pedal:








À partir daquela parada, resolvemos voltar... Nem sei que horas, poderiam ser umas  oito e pouco sei lá.. estava decidido a voltar pro pedal. 

Daquele trecho em diante, pareceu a princípio que os furos aconteciam mais espaçadamente, ao invés de cada um ou dois quilômetros, aconteciam a cada 5, 6... dava pra pedalar um pouco mais... era a impressão.

Ouvimos música à noite na estrada, com a torrezinha sonora da Ámélia, dos anos 80... que bom, mas o som não dava conta do que viria pelo dia todo: Furos e mais furos, minando nossa resistência. Pedal e não pedal o tempo todo...

Marcelo, que já teve biclicletaria, devoto de Nossa Senhora era uma boa salvação da lavoura, em muitos dos casos, era ele, quem socorria e fazia o conserto bem rápido.  

Teve até um momento em que não sei como inverteram a corrente da bike, e ninguém conseguia
entender como isso tinha acontecido... Aí o Marcelo com sua paciência de Jó, veio e ainda disse:...¬ Deixa o dotô trabaia...

Tirou o câmbio, e retornou a corrente pra posição certa e pimba, consertou.

Pouco antes de sair da rodovia Carvalho Pinto (continuação da Ayrton Senna), e entrar na Dutra, nosso colega Anderson, dos mais insistentes em viagens havia desistido de pedalar e não pedalar e resolveu entrar na Van. Frustração esse é o nome que podemos
conferir a um pedal, onde não se consegue pedalar.


Tem momentos em que um guerreiro abre mão da sua bike, pra permitir a outro sentir a sensação de chegar ao objetivo da missão.

Foi assim que Anderson, que já havia pedalado nesse mesmo percurso em maio, viu o amigo Mi, se decepcionar com sua bike, pois os raios da roda começaram a soltar, e ovalizar.


Aí quem já estava meio cansado de tanto ver consertos de furos de pneus, ofereceu sua bike e o estreante nesse trecho, não vacilou, agarrou a chance e foi com ela em busca da missão final.

No trecho inical da Via Dutra, começamos a deparar com romeiros, caminhando à pé pelo acostamento rumo ao santuário de Aparecida.  Deve ser bem mais difícil e doído, caminhar assim, pensei. 

Haviam também barracas de solidariedade, católicos formavam grupos de voluntários nas margens da rodovia, e ofereciam água, frutas, bolos, páo,  café...  Paramos numa primeira barraca e depois de comer um delicioso pão com manteiga, e um café quentinho, ainda veio um voluntário oferecer chocolate líquido, e deve ter notado minha idade mais coroão..., e avisou:  

¬ Se você estiver sentindo dores, logo ali temos serviço de massagem também... (tudo gratuito e  oferecido com muito boa vontade).

Quero dizer ainda que pedalar e não pedalar pela rodovia exigiu muito, mas muito esforço, deparamos com vento contra, à favor, com motoristas que passavam na pista direita, bem próximos da linha do acostamento. Vários inclusive buizavam saudando o grupo.

Eram de fato guerreiros. Persistentes, lutadores. Estavam todos em veículos movidos à proporção humana, pelo nosso esforço.

Santuário de Aparecida do Norte, queríammos tanto, mas tanto entrar nessa casa.  Eu comecei a notar a presença da mãe Aparecida no trecho final da Dutra, através daquelas pessoas voluntárias oferecendo sua ajuda. Teve gente que esticava o braço pra oferecer água, isso era muito gratificante. 

Naquelas alturas o grupo que era de trinta foi se subdividindo e formando pequenos grupos de cinco, seis, às vezes três, e mais adiante encontrava-se com mais três consertando pneu pra variar, e saíam dali uns seis, sete...

Levava meus pedidos de proteção, a nós todos ciclistas, pra mãe querida, de agradecimentos por tanta ajuda que nos tem concedido, não é fácil sobreviver num Brasil de tantas dificuldades, da corrupção que nos rouba o esforço, e nos devolve sofrimento.

Comecei a enxergar a presença de Nossa Senhora nessas ações de solidariedade, na primeira barraca que parei, havia uma imagem de Nossa Senhora e um caderno e caneta, onde se podia anotar o que quisesse. 

Meu colega Job resolveu escrever um romance ali... ficou
anotando um tempão.. lá no acostamento o Joh fazia sinais com impaciência pra que recomessássemos logo a viagem.

Eu esperei a minha vez.. Fui lá e anotei meus agradecimentos e meus pedidos..  Quando voltei ao acostamento, estávamos em cinco acho, o Joh já
tinha partido..

Como dizia, pensei na mãe querida, agora mais ainda, era como se estivesse estendendo seus braços pra nós, ali tão indefesos sofridos pedalando. Passávamos por romeiros que caminhavam à pé sofrendo também pra chegar no Santuário.

Quando paramos num posto e fui procurar o banheiro no restaurante, ouvia vários funcionários com sorriso, alguns dizendo;

¬Agora falta pouco, já está chegando...

Nossa Senhora, começo entrar na sua casa, nesta casa de amor e de solidariedade. É sua mensagem existindo nas pessoas, nas margens dessa rodovia. Pensei tanto naqueles furos de pneus, se estávamos indo ao santuário pra que tanto sofrimento...

Mas foi em casa, no final da aventura que imaginei:  Nossa Senhora, queria nos proteger, todos estavam muito entusiasmados e poderiam acelerar, fazer ultrapassagens, correr mais riscos, e aquelas rodovias estavam com tanto movimento, foi então uma forma de nos proteger, fazendo parar um pouco a cada instante... 

Chegamos. Todos pedalaram, a maioria cumpriu o trajeto todo no pedal, eu e mais alguns colegas, pulamos um trecho, de uns 40 quilômetros.

A Priscila, soube depois, que no trecho final, sentindo dores nos pulsos, unha encravada... não aguentou e foi pra Van.

Mas quem pedalou o trajeto todo, quem pulou um trecho, quem se frustrou e desistiu de pedalar depois de mais de cem quilômetros todos, e cada um foram e são vencedores. 










Cumpriram a missão, deram tudo de si, até a última gota de esperança, de esforço,
de insistência. 

Assim chegamos cada um no local físico da casa da nossa padroeira mãe Aparecida, e acho que ela na sua imensa misericórdia, aceitou, compreendeu nosso esforço, e tudo que isso representava pra cada um de nós, vejo suas mãos estendidas, naqueles gestos de solidariedade.

























Chegamos, e somos todos muito gratos, pela sua benção, pela proteção, fomos e voltamos todos sem nenhum arranhão, agradecemos essa benção, querida mãe, muito obrigado Nossa Senhora Aparecida. 

Parabéns guerreiros, muitos deles do Roda Presa, do Pedal Existencial, em fim do ciclismo e da persistência. Cada um com sua cota de esforço, fez acontecer essa viagem, uma romaria à casa de Nossa Senhora Aparecida.


*Anderson, *Andrea, *Douglas, *Eduardo, *Job, *André, *Mi, *Marcelo, *Luizinho, *Fernando, *Sérgio, *Rodrigo Pulmão, *Amélia Rodrigues,
*Paulo Sérgio, *Anderson Lima, *Márcio Queiroz, *Diego Rodrigues, *Anderson Santana, *Xandão, *Gabriel, *Ismael, *Diego VZ,
*Marciano, *Priscila, *China, *Roberto, *Joh, *Markito, *Edmilson, *Rafael.

Homenagem especial ao seu Belo, ciclista e mecânico de bicicletas que aos 85 anos, se precisar faz a peça que faltar, como adaptou um bagageiro pra  minha bike. 

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