segunda-feira, julho 30, 2007

Acidente aéreo e inversão de valores

Por: Roberto Zaghini Jorge
O que fica cada vez mais evidente depois do acidente com air bus da Tam é a notória inversão de valores que hoje é corrente nesta sociedade pra lá de comercial. O que é sagrado hoje é o lucro, e a vida, fica em segundo plano, ou terá que se adaptar às necessidades do lucro.
O que eu entendo, mesmo não sendo um especialista em aviação, é que se existem duas turbinas com reversor, é porque esse reversor tem importância no momento de frear um avião ou então o fabricante não instalaria tal equipamento.
A empresa fabricante desta aeronave divulgou nota orientando para que todos pilotos que conduzam este tipo de aeronave utilizem as manetes no ponto neutro. Mas não teve a ousadia ou a coragem de orientar para que as empresas só autorizassem vôos com os dois reversores funcionando, talvez por que isto pudesse atrapalhar a necessidade de manter as aeronaves voando e faturando sempre, mesmo com algum risco.
A revista Veja, numa matéria duvidosa, ou sórdida, como já o fez no passado em relação ao cantor Cazuza, quando publicou em sua capa que o cantor agonizava em praça pública, tenta lançar a culpa pelo acidente sobre o piloto que teria cometido um erro ao deixar a manete na posição de acelerar. Tudo por uma matéria de impacto, ainda que de péssimo gosto, sórdida. Claro desta forma a revista atendo-se a orientação da fabricante do air bus, para que a manete permaneça na posição neutra, plublica que a culpa pelo acidente seria do piloto, alguém que já morreu e nem pode se defender. Fica mais fácil do que lançar a culpa sobre as empresas que forçam para que as aeronaves estejam em atividade, mesmo com um reversor travado ou pinado, e até da infraero e outras instâncias ainda mais poderosas que jamais poderiam ter liberado uma pista sem as ranhuras e até do que se vê hoje, um prédio de onze andares que coloca em risco o tráfego aéreo muito próximo do aeroporto de Congonhas.
O que podemos imaginar é que se a pista do aeroporto de Congonhas tivesse as ranhuras que deveria ter, inclusive devido ao seu tamanho e sem área de escape, e se o air bus tivesse com as duas turbinas e os dois reversores funcionando, este acidente provavelmente não teria ocorrico. É uma vergonha que hoje se tente lançar a culpa sobre um piloto, pra falar a verdade isto é uma grande COVARDIA, bem ao estido da grande imprensa sempre a serviço do poder e da grana.
Assim como podemos ver hoje em dia, a vida tem um significado inferior ao da necessidade de lucro constante, o que vem marcando nosso tempo, podendo propiciar ainda outras tragédias.

segunda-feira, julho 09, 2007

Jamais esquecerei de você

Fitava aqueles girassóis no vaso sobre a mesa, enquanto o sol da manhã impulsionava uma leve brisa, numa bela manhã de domingo. Como é bonito o Girassol, parece até o sol representado numa flor que às vezes guarda boas lembranças..

Conto: Jamais esquecerei de você

Por: Roberto Zaghini


As amizades durante a infância costumam ser muito intensas, envolvem muita energia é como se as crianças se reconhecessem como irmãs. Já ouvi falar sobre isso e pensei sobre a amizade da pequena Raquel de 10 anos, à época, com sua amiga Natália de 12.
Brincavam de casinha, de boneca, coisas de menina, mas Natalia também tinha responsabilidades, cuidava sozinha da casa enquanto seus pais trabalhavam. Às vezes ia à feira, preparava almoço para seu irmão mais novo, Natanael. Raquel acompanhava, aprendia e vivia aquela amizade intensa.
Um dia após ventar muito durante a noite, Natalia achou um filhotinho de Bem-te-vi que havia caído de uma árvore com ninho e tudo. Natalia, Raquel e Natanael arranjaram uma caixa de sapatos e ali colocaram areia, uns galhinhos de árvore com folhas e o ninho do pequeno Bem-te-vi. Ele se sentiu à vontade como se estivesse em seu lar e às vezes até se coçava com seu bico sem se preocupar com as pessoas à sua volta. Natalia e seu irmão eram baianos e o pequeno Natanael também de 10 anos falava com orgulho que era descendcente de índios, da tribo Tapuias. Um dia ele lembrou assim com ar assustador daquilo que sua avó havia dito algum tempo atrás:
- Se um dia a lua brigar com o sol o mundo pode acabar..
Raquel também ficou assustada quando contou o que ouviu do pequeno Natanael.
- Ainda bem que eles não brigaram disse seu pai, para alívio de Raquel.
Entretanto o destino um dia quis separá-los e Natalia recebeu de seus pais a notícia de que voltariam para Salvador logo no início do ano. Raquel pensou que iria perder sua melhor amiga, mas intensificou sua amizade brincando com sua amiguinha todos os dias. Trocaram fotos para guardar de recordação, e uma semana antes de Natalia partir, Raquel também viajou para Viçosa em Minas Gerais na casa de seu avô. Num mesmo dia antes de partir foi várias vezes na casa de Natalia para se despedir, era uma despedida atrás da outra, foli até divertido para elas que talvez ainda nem poderiam supor como seria a vida tão distante..
Raquel garantia que iria ver sua amiguinha no ônibus passando em Minas, seu pai explicava que seria praticamente impossível porque o ônibus de viagem passa apenas pela rodovia e não pela cidade. Como amizade na infância é mesmo intensa, durante um sonho Raquel viu sua aminguinha Natalia passando de ônibus sim e lá em Viçosa, deu tempo pra elas se abraçarem, desejar muita sorte uma pra outra e até ganharem dos passageiros emocionados alguns girassóis para guardar de recordação.
Como é linda a amizade entre as crianças, pensava enquanto olhava meio distante dali para aqueles girassóis num vaso sobre a mesa da sala. Artificiais, estes eram feitos de pano e plástico.

domingo, julho 01, 2007

Vamp Wind Surf na Represa Guarapiranga

A represa Guarapiranga ficou durante muito tempo, talvez uns dez anos ou mais, escondida atrás de muros num de seus mais belos trechos ao longo da antiga avenida Atlântica, a atual Robert Kennedy, foi uma idéia de girico cercá-la da visão pública e uma brilhante e maravilhosa idéia trazê-la de volta aos nossos olhares, ainda que de passagem ao longo da avenida, a nossa Atlântica, a Atlântica de Sampa.
Mas havia algo naquele ano de 2008 acumulado por muitos anos de maus tratos que ninguém talvez pudesse imaginar..


Conto: Vamp Wind Surf na represa Guarapiranga


Pouco a pouco os muros foram derrubados e tudo aquilo que obstruía a ampla visão da represa Guarapiranga foi sendo removido, ao menos num determinado trecho. Até que na primavera de 2008 ganhávamos de volta aquela paisagem da represa com direito aos relexos dos raios de sol e até o prateado da lua inspirando a conturbada vida no dia a dia de Sampa.
Foi numa manhã de outubro, início de primavera que autoridades como o prefeito de São Paulo, o sub prefeito de Capela do Socorro, o governador, secretários de meio ambiente, de obras, de infra-estrutura, etc e tal, marcaram encontro num trecho dessa pequena orla à fim de marcar o início de um novo período para a represa de Guarapiranga, de bons tratos, mais verde, projetos de recuperação.
Emissoras de TV, rádio e jornal, a imprensa em geral estava presente para registrar. Era uma manhã de sol com céu parcialmente nublado, até que ventos começam a soprar fazendo com que as nuvens encobrissem o sol. Alguns dentre a multidão espantam-se ao olhar em direção à represa e surgem os primeiros gritos, de espanto e surpresa..
- Olhem só, meu Deus, o que é isso?
- Cruz credo, Virgem Maria..
- Puta que pariu, olha só pra isto..
Avistando a represa sob um céu nublado começavam a submergir daquelas águas alguns wind surfistas que se pareciam com surfistas, maltrapilhos, as velas de suas pranchas estavam sujas e rasgadas e em algumas partes manchadas de sangue. Não eram figuras humanas tão pouco de nosso tempo, mas se juntaram e deslizavam pelas águas como abutres.
Alguns repórteres de TV se anteciparam pretendendo registrar o fato e aquela visão..
- Estamos aqui na represa Guarapiranga, onde haveria o lançamento de um novo projeto para recuperação deste manancial quando começaram surgir estas tenebrosas figuras..
Neste trecho um dos vampiros surfistas mostra o traseiro para a câmera e por trás da bermuda rasgada aparecem os ossos da região glutea..
Ao tentar repassar essas imagens para a emissora notaram que aquelas estranhas figuras não foram captadas pelas câmeras. O mesmo ocorreu com as fotos. De modo que ninguém conseguiu gravar qualquer imagem a não ser as que podiam ver diante de seus olhos..
Seria então uma imaginação ou delírio coletivo? Não, não era isso, os vamps surfistas, vários dentre eles com latas velhas penduradas às velas, deslizavam de um lado para outro numa imagem que contrastava com tudo que se poderia esperar de uma nova represa. E assim se passou aquele dia todo e os outros dias subsquentes. Infelizmente aquela data que seria um marco na idéia de recuperação daquela orla da represa Guarapiranga havia sido manchada.
Houve uma dispersão inicial, autoridades concediam entrevistas em seus gabinetes, a imprensa também deixou o local uma vez que não se podia registrar imagens.
Todos eram unanimes em responder que jamais haviam visto coisa parecida, e surgiram muitas opiniões a respeito e até novas sugestões..
- Vamos chamar o padre Marcelo..
E as idéias foram surgindo, queriam trazer pastores e até benzedeiras.. E foi um índio de uma pobre tribo guarani meio dispersa da região de Parelheiros que visitando aquele local apresentou um parecer que de alguma forma combinava com o que estava ocorrendo, já há mais de duas semanas.
- As águas que servem de beber ao povo são abençoadas e protegidas pelos bons espíritos da natureza, mas a poluição, os maus tratos, o lixo lançado nessas águas ocasionou muitas mortes, de pessoas que morreram afogadas, da natureza, le então obedecendo ao grande espírito protetor, todos os outros abandonaram essas águas e deixaram surgir essas sombras do mundo espiritual..
Esse foi um parecer, uma idéia que tinha muito a ver com o que vinha acontecendo, mas o índio não interferiu apenas apresentou sua versão. A solução tinha de ser apresentada pelos próprios homens brancos. Assim com a interferência dos religiosos brancos, inclusive o padre Marcelo Rossi, que reuniu uma multidão, aquelas criaturas foram sumindo, algumas desaparecendo simplesmente, outras inclinando suas pranchas para baixo submergindo nas águas de maneira mal educada fazendo gesto de banana.. Foram lançadas porções de sal grosso, de água benta, até que depois de uma manhã de rezas, as águas voltaram ao ponto anterior.. sujas, poluídas, mas livres daquelas sinistras figuras. Ao menos por enquanto diziam alguns.
O perigo era real, autoridades haviam presenciado, o assunto se espalhou, gerou tumulto e apreensão. O projeto de recuperação da represa Guarapiranga precisava ser ampliado, era preciso bem mais diziam especialistas, seria necessário instalar usinas de tratamento de água para evitar o despejo de merda e água poluída..
O sol ressurgiu inclinando no horizonte para onde muitos olhares se dirigiam em busca de esperança e proteção.