domingo, julho 01, 2007

Vamp Wind Surf na Represa Guarapiranga

A represa Guarapiranga ficou durante muito tempo, talvez uns dez anos ou mais, escondida atrás de muros num de seus mais belos trechos ao longo da antiga avenida Atlântica, a atual Robert Kennedy, foi uma idéia de girico cercá-la da visão pública e uma brilhante e maravilhosa idéia trazê-la de volta aos nossos olhares, ainda que de passagem ao longo da avenida, a nossa Atlântica, a Atlântica de Sampa.
Mas havia algo naquele ano de 2008 acumulado por muitos anos de maus tratos que ninguém talvez pudesse imaginar..


Conto: Vamp Wind Surf na represa Guarapiranga


Pouco a pouco os muros foram derrubados e tudo aquilo que obstruía a ampla visão da represa Guarapiranga foi sendo removido, ao menos num determinado trecho. Até que na primavera de 2008 ganhávamos de volta aquela paisagem da represa com direito aos relexos dos raios de sol e até o prateado da lua inspirando a conturbada vida no dia a dia de Sampa.
Foi numa manhã de outubro, início de primavera que autoridades como o prefeito de São Paulo, o sub prefeito de Capela do Socorro, o governador, secretários de meio ambiente, de obras, de infra-estrutura, etc e tal, marcaram encontro num trecho dessa pequena orla à fim de marcar o início de um novo período para a represa de Guarapiranga, de bons tratos, mais verde, projetos de recuperação.
Emissoras de TV, rádio e jornal, a imprensa em geral estava presente para registrar. Era uma manhã de sol com céu parcialmente nublado, até que ventos começam a soprar fazendo com que as nuvens encobrissem o sol. Alguns dentre a multidão espantam-se ao olhar em direção à represa e surgem os primeiros gritos, de espanto e surpresa..
- Olhem só, meu Deus, o que é isso?
- Cruz credo, Virgem Maria..
- Puta que pariu, olha só pra isto..
Avistando a represa sob um céu nublado começavam a submergir daquelas águas alguns wind surfistas que se pareciam com surfistas, maltrapilhos, as velas de suas pranchas estavam sujas e rasgadas e em algumas partes manchadas de sangue. Não eram figuras humanas tão pouco de nosso tempo, mas se juntaram e deslizavam pelas águas como abutres.
Alguns repórteres de TV se anteciparam pretendendo registrar o fato e aquela visão..
- Estamos aqui na represa Guarapiranga, onde haveria o lançamento de um novo projeto para recuperação deste manancial quando começaram surgir estas tenebrosas figuras..
Neste trecho um dos vampiros surfistas mostra o traseiro para a câmera e por trás da bermuda rasgada aparecem os ossos da região glutea..
Ao tentar repassar essas imagens para a emissora notaram que aquelas estranhas figuras não foram captadas pelas câmeras. O mesmo ocorreu com as fotos. De modo que ninguém conseguiu gravar qualquer imagem a não ser as que podiam ver diante de seus olhos..
Seria então uma imaginação ou delírio coletivo? Não, não era isso, os vamps surfistas, vários dentre eles com latas velhas penduradas às velas, deslizavam de um lado para outro numa imagem que contrastava com tudo que se poderia esperar de uma nova represa. E assim se passou aquele dia todo e os outros dias subsquentes. Infelizmente aquela data que seria um marco na idéia de recuperação daquela orla da represa Guarapiranga havia sido manchada.
Houve uma dispersão inicial, autoridades concediam entrevistas em seus gabinetes, a imprensa também deixou o local uma vez que não se podia registrar imagens.
Todos eram unanimes em responder que jamais haviam visto coisa parecida, e surgiram muitas opiniões a respeito e até novas sugestões..
- Vamos chamar o padre Marcelo..
E as idéias foram surgindo, queriam trazer pastores e até benzedeiras.. E foi um índio de uma pobre tribo guarani meio dispersa da região de Parelheiros que visitando aquele local apresentou um parecer que de alguma forma combinava com o que estava ocorrendo, já há mais de duas semanas.
- As águas que servem de beber ao povo são abençoadas e protegidas pelos bons espíritos da natureza, mas a poluição, os maus tratos, o lixo lançado nessas águas ocasionou muitas mortes, de pessoas que morreram afogadas, da natureza, le então obedecendo ao grande espírito protetor, todos os outros abandonaram essas águas e deixaram surgir essas sombras do mundo espiritual..
Esse foi um parecer, uma idéia que tinha muito a ver com o que vinha acontecendo, mas o índio não interferiu apenas apresentou sua versão. A solução tinha de ser apresentada pelos próprios homens brancos. Assim com a interferência dos religiosos brancos, inclusive o padre Marcelo Rossi, que reuniu uma multidão, aquelas criaturas foram sumindo, algumas desaparecendo simplesmente, outras inclinando suas pranchas para baixo submergindo nas águas de maneira mal educada fazendo gesto de banana.. Foram lançadas porções de sal grosso, de água benta, até que depois de uma manhã de rezas, as águas voltaram ao ponto anterior.. sujas, poluídas, mas livres daquelas sinistras figuras. Ao menos por enquanto diziam alguns.
O perigo era real, autoridades haviam presenciado, o assunto se espalhou, gerou tumulto e apreensão. O projeto de recuperação da represa Guarapiranga precisava ser ampliado, era preciso bem mais diziam especialistas, seria necessário instalar usinas de tratamento de água para evitar o despejo de merda e água poluída..
O sol ressurgiu inclinando no horizonte para onde muitos olhares se dirigiam em busca de esperança e proteção.

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