sábado, novembro 03, 2007

Crer ou não crer, eis a questão..



Por: Roberto Zaghini Jorge

Publicado pela 1ª vez em outobro/2003 no tablóide Multiforça.


Fotos: Galileu




- As batatas estão bem dispostas na areia, bem visíveis.

- Acho que eles já nos avistaram, logo virão buscá-las.


Poderia ser uma manhã tranquila, de sol, mar calmo, areia branca, e na mata próxima..

Um grupo de macacos estava certamente atento e não perderiam a oportunidade de descolar um bom café da manhã. Interessante era o que estava para acontecer diante dos olhos atentos e arregalados..


- Alô, atenção, alô atenção, Terezinhaaaaaaaaa..
- UuuuuuuUuuuuuuu
- Vocês querem bacalhau?
Chacrinha lança um e depois outro, o público faz uma festa para alcançar o prêmio.
- Viva o Vascoooo..
- Vivaaaaaaaa
- Daqui há pouco vamos receber o meu amigo Tim Maiaaaaaaaa, mas antes nós vamos faturar..
- Roda, roda e avisaaaaaaaa
Bermudão e blaser floridos, um enorme disco com números imitando o telefone, óculos de aro grosso de plástico colorido, camisa florida, uma buzina de mão, sem dúvida Chacrinha foi um fenômeno da comunicação, identificava-se muito com o brasileiro e tinha uma facilidade enorme de transmitir alegria e chamar a atenção do público. Talvez porque fosse mesmo do público, do povo só que mais fantasiado, muito louco. Alguém assim poderia transmitir idéias novas que se espalhariam mudando hábitos, alterando costumes. Mas parece que esses novos hábitos e costumes nem sempre necessitam de um chacrinha para serem transmitidos adiante.
Um grupo de pesquisadores, cientistas darwinistas (que diz que o homem evoluiu à partir do macaco) criou uma nova ciência justamente para estudar isso: a proliferação de idéias, o que eles chamam de meme. Publicado no mês de setembro na revista Super interessante, Meme seria um termo subistituto à palavra idéia, uma espécie de junção de palavra gene com idéia.
O objetivo seria estudar como novas idéias (meme) se propagam como virus. É como se a idéia tivesse vida própria, se alojasse em cérebros e teria como único objtetivo atingir milhares de outros cérebros..
Esse estudo chamado memética procura descobrir esse fenômeno e assim também tenta explicar uma pesquisa realizada por um grupo de zoólogos numa pequena ilha do Japão chamada Koshima. A pesquisa acabou ficando conhecida como a lenda do centésimo macaco.
Zoólogos espalharam pela areia da praia inúmeras batatas doces e ficaram espreitando o comportamento dos macacos ao se aproximar e pegar as batatas para comer. Para os macacos era comum apanhar sua comida cheia de areia e comer assim mesmo. Até que uma macaca pegou uma batata e resolveu lavá-la na água salgada do mar antes de comer. Deve ter achado mais saborosa e em seguida ensinou sua mãe e depois outros macacos do grupo. Um foi imitando, aprendendo com o outro até que o último macaco, talvez o centésimo aprendeu e aí por diante quando aquele grupo já tinha como hábito lavar a batata antes de comer, parece que aos olhos surpresos desses cientistas tal comportamento espalhou-se no ar e assim macacos de outras ilhas mais distantes e sem nenhum contato com os macacos da ilha de Koshima, começaram também a lavar as batatas e toda sua comida antes de comer.
A história teria sido relatada num livro de um tal Lyall Watson em 1979 e se propagou ainda mais. Assim também outros seguidores desse estudo da lenda do centésimo macaco acreditavam que bastava pensar coletivamente em paz para que se alcançasse a paz. Quando uma idéia atinge inúmeras pessoas pode ganhar forma e talvez por telepatia se espalhar.
Assim como um virus o Meme (idéia) se aloja num cérebro e faz de tudo para se espalhar, multiplicar espremendo-se em todo espaço onde for possível, num jornal por exemplo.., num blog..
Ainda acho esses cientistas muito chegados a macacos, mas ao contrário deles, desconhecem ou desprezam a existência do espírito aquele que dá vida individual e que ligado à grande vida é imenso e quando tocado, procede ele mesmo o avanço de novas idéias. É crer no que não se pode aparentemento ver, como saudade, amor..
Para não ficar na promessa apresento neste trecho algo que só mesmo num conto como este poderia acontecer.. Tim Maia no programa do Chacrinha! Com absoluta exclusividade aí vai o "velho guerreiro"..
- Alôooooooo ateeeeennnçãaaaaaooooooo, antes de trazer o meu amigo Tim Maia, mais uns recados da discoteca do Chacrinha..
- Terezinhaaaaaaaaa
- UuuuuuuUuuuuuuu
- Alô atenção, alô atenção dona Terezinha, você já lavou a cozinha? alô dona Raimunda , já lavou o pé? E agora com vocês o meu amigo Tim Maiaaaaaaaaaaaaaa...
- Aí Chacrinha valeu, é um prazer estar aqui com você, muito obrigado, maestro, vamos lá...
- Pode o inverso chegar.. Eu quero estar junto a ti.. vê é primavera de amor, é primavera.. Trago esta rosa para lhe dar.. Hoje o céu está tão lindo..
Chacrinha recebe uma rosa de Tim Maia e de bermudão, blaser, cartola e óculos colorido passeia pelo programa e divide a atenção das câmeras com o cantor, até que depois de ensaiar duas vezes, lança a rosa ao público que se agita ainda mais com a música tocando..
-..É primavera de amor, é primavera...
- Houve uma época em que muitos jovens se revoltaram com tantas guerras, violência, e no mundo inteiro derrubaram governos ditatoriais que precisavam de armas para se manter no poder. Em seguida surgiram os hippies, gente que gostava de cultivar a paz, e se espalharam pelo mundo, criando comunidades ou simplesmente viajando levando pra todo lado novos costumes e uma verdadeira repulsa à violência. O lema era: Paz e Amor, justamente essa geração que viu, participou e mentalizou a segunda guerra mundial, a guerra do Vietnã.. Era a resposta do espírito da vida, contra o sentimento de violência que detonava a vida. E foi a maior resposta. Entre milhares de hippies, um deles teve grande importância: John Lenon, possivelmente teria sido o maior de todos os hippies em termos de divulgação e de espalhar a idéia da paz e do amor, de ser hippie. Contagiado que foi, principalmente pelo espírito de repulsa à violência, precedendo um novo período de paz.
Hoje esse período precisa se reaquecer, ganhar mais espaço, superar mais uma vez a violência, mais uma vez em busca da paz, para o Brasil para o mundo todo. Paz com trabalho, dignidade, paz com Deus o grande espírito da vida.
Fico imaginando esses cientistas seguidores de Darwin ao analisarem complementos, desenvolverem estudos, ignorando o principal, a vida. Mas Darwin, o próprio, o criador da teoria da evolução, que acreditava que o ser humano teria evoluido a partir do macaco, um dia partiu desta.. e deve ter encontrado Deus, o espírito da vida e logo descobriu sua maior mancada..
- Tanta pesquisa, teoria, estudos, para tentar desprezar tudo o que criei, toda vida que até você partilhou, você esqueceu do principal, esqueceu-se de mim que te dei a vida..
- Ai caramba é mesmo..
- Pois bem senhor Darwin, vou lhe dar a chance de provar você mesmo toda sua teoria e a possível evolução que com a inteligência que tem, possa alcançar. Vou te dar algumas existências simias!!
- Puxa, mas..
Engasgou, não achou o que falar naquele momento, e assim de repente numa mata dessas, numa ilha perdida no meio do mundo.. no Japão, lá estava o grande Charles Darwin em meio a um grupo de macacos, avistou próximo ao mar inúmeras batatas espalhadas, chamou seu grupo e foi buscar o alimento.
Muito inteligente, dom este que manteve, e na figura de uma macaca, vejam só, ao tocar na batata descobriu logo que seria melhor lavá-la antes para então comer. Ensinou isso ao grupo diante do olhar atônito dos pesquisadores, quem sabe até seguidores da teoria que ele mesmo havia criado quando teve a chance de ser humano.
- Olha que inteligente, ela lavou a batata.
- Vamos registrar isso.
Os zoólogos ficaram eufóricos com o desenvolvimento da pesquisa, alguém teria inclusive comentado..
- Que experiência! Acho que até o próprio Darwin se pudesse estaria aqui participando com a gente..
- Certamente! A propósito, essa pesquisa está dando uma fome! Vou preparar algumas batatas..
conto com você até a próxima edição, RZJ.

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